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21 janeiro 2011

Ressurreição (Não perca seu tempo lendo isto)



Hoje resolvi ressuscitar este blogue. Só não sei até quando. Só não sei se alguém vai ler. Pouco me importa. Não estou preocupado com audiência, não concorro a prêmios, não sou blogueiro profissional. Quero começar falando do meu mais novo amigo de infância: o ano de 2011. A meu ver, nos conhecíamos há muito tempo, talvez desde antes de eu nascer.

Eu sei que parece a maior piração — e é! — alguém acreditar que porque um ano mudou, nós podemos mudar também. Mas atire a primeira pedra quem nunca pensou assim. E se esforçou para que isso realmente fosse verdade. Pois bem... Não me esforcei desta vez, mas sinto as coisas fluírem como nunca fluíram antes.

Este post começou agora e já está no fim. Ou seja, não tiramos nenhum proveito dele. Coloquei-o aqui tão somente para anunciar ao mundo (que não lerá) que estou diferente. Se eu serei realmente diverso, apenas o tempo dirá. Mas não importa. O importante é que estou fazendo coisas que eu não fiz durante o ano passado inteiro. E escrever aqui é uma delas.

31 julho 2009

ACHO QUE VOLTEI...

Acho que voltei... Voltei mais leve. E antes que o vento me leve a leveza, quero aproveitar pra voar... Não sei como serei daqui pra frente, a não ser que serei novo. O oco aos poucos vai sendo preenchido. Não por alguém que sempre ocupava um espaço menor que as minhas intenções. O oco vai sendo preenchido por mim. Mas essa volta se dará aos poucos, pra que antes de me mostrar pra você, eu possa me conhecer novamente.

28 abril 2009

FLORES NO JARDIM


Hoje bateu uma brisa leve aqui dentro e acalmou as coisas. Senti o frescor dessa brisa e o calor do sol. Passou o frio. Passou o inverno. E como sempre, depois do inverno, as flores começaram a desabrochar. Ainda não sei se é mesmo a primavera. Só sei que o jardim se encheu de cores. Só sei que hoje, não preciso escrever.

21 abril 2009

DESORDEM DEMAIS PRA POUCO RISO


É uma merda essa coisa a que chamamos de vida. Quando tudo parece já estar no lugar, prontamente classificado, rotulado e guardado nas prateleirinhas, vem alguém com alma de saci e bagunça tudo de novo. Talha nosso leite. Queima o nosso arroz. Desorganiza tudo.

E comigo não é diferente. Os meus livros estão todos no chão. As roupas de casa, do trabalho, de festa, de frio, de calor, claras e escuras estão ali, amontoadas, todas juntas. Amarrotadas e sujas. Os sapatos, que amorosamente suportam o meu peso e me levam pelos caminhos, estão todos espalhados, misturados, em meio às meias também imundas que tento esconder dentro deles. Uma poeira enorme, densa, pesada vai encobrindo tudo, sujando tudo... Eu tento escrever meu nome nessa poeira que se assenta pela superfície da minha vida e maculo os meus dedos cansados.

É bagunça demais. É desordem demais pra pouco riso. É a baderna exaustiva. É o caos. São as palavras, todas, fora dos dicionários. São as cores, todas, fora dos quadros. É personagem sem enredo, enredo se espaço, espaço sem tempo. É muita gente sem tempo pra viver. É a organicidade desorganizada do mundo moderno. É meu organismo inorgânico que teima em estar vivo, mas já nasceu morto, talvez.

Leva tempo arrumar tudo de novo. Consome forças. Melhor seria deixar tudo como está. Porque como todo desorganizado, eu me oriento na minha bagunça. Mas como é bom ver tudo limpinho. Ver chão brilhando, espelhando a minha imagem torta. Por isso eu tenho que arrumar. Por isso temos. Deixar tudo brilhando pra que a lama que jogam sobre nós possa sujar-nos. Pra que a lama que jogam sobre nós possa ser lama.

19 abril 2009

HOJE EU QUERIA PARAR


Hoje eu queria parar. Parar e ver o tempo correr um pouquinho. Parar debaixo de uma árvore da minha vida e contemplar quem eu sou. Ou quem creio ser. Na verdade, contemplar quem estou. Os vários rostos que tive. Aqueles que eu mostrei e que escondi. Aqueles que eu amei e aqueles dos quais tive asco. Como seria bom parar. Parar com tudo... Desligar o botão do gostar, por exemplo. Olhar profundamente nos olhos disso que venho chamando de amor e contemplar toda a sua insignificância e pequenez.

Hoje eu queria parar. Queria me ver pelo lado de fora, com olhos alheios. Rir de mim. Ver como sou ridículo. Rir das minhas roupas, do meu jeito de andar, rir da minha voz que é tão estranha quando a ouço por fora. Queria ver meu sorriso triste e permanecer indiferente. Queria me ver chorando e achar graça, pois sou homem feito, e segundo o caderninho dos preceitos, um homem não chora.

Hoje eu queria parar. Pedir que o vento seguisse sozinho. Que soprasse a face de outro idiota. Pedir que meus sonhos seguissem sozinhos, procurando outra mente insana para habitarem. Pedir ao rio que corresse sozinho, e contemplá-lo. Ele nunca seria o mesmo, mas eu seria.

Hoje eu queria parar, mas eu não posso. Porque existe a merda do tempo, e ele não dá trégua. E a melhor parte do tempo é aquela que se foi.

07 abril 2009

REDESCOBRIR



Antes de ler, carregue e assista ao vídeo...


Um certo dia, como se fora brincadeira de roda, como se brincássemos crianças em nossas verdadeiras vidas, somos levados a redescobrir-nos. Encontrar dentro de nós mesmos a parte que de agora em diante chamaremos “eu”. Como numa corrida de revezamento, esse “eu” pega o bastão e domina nossa mente.

De início, o antigo “eu” canta a maior parte da música. E o novato apenas completa, na segunda voz, com uma única palavra que se encaixa perfeitamente naquilo que é cantado. Às vezes ele desafina, canta alto, canta baixo, canta estranho. Nos assusta. Às vezes nem canta, ficando escondido num canto. Ficando seu canto escondido.

E aí esses “eus” vão, aos poucos, aparecendo, todos eles. Uns aqui, outros acolá, uns tão claros, outros tão ocultos, e já não sabemos qual deles veio primeiro, ou qual deles chegou por fim. E assim, o doce no lamber das línguas macias e o suor da vida no calor de irmãos vai tomando conta de nossa existência e as lágrimas erram pelos caminhos tortuosos e escorregadios do nosso rosto. É preciso redescobrir também cada um desses “eus” que numa constância mutante são novos a cada segundo.

O ritmo da música que ouvimos no nosso de dentro vai aumentando aos poucos e vai-nos fazendo dançar. Mais rápido, e mais rápido que antes, as vozes desses “eus” ainda são ouvidas separadamente, ainda têm alma, ainda têm calma, placidez. Ainda são brisa indelével e indolor.

Mas um grito de dor chega e muda tudo. O ritmo acelera mais ainda... E na dor, o eu de agora dá as mãos pros outros “eus” e eles brincam de roda, nessa ciranda da vida... Agora já cantam em uníssono. Já são uma única voz falando mais alto.

As luzes do palco se acendem e iluminam a ciranda da dor... E a alegria, paradoxalmente, emana dos corações entristecidos de todos aqueles que cantam. Tudo parece um circo. E nesse espetáculo, somos mágicos, palhaços e feras. Domadores, bailarinas e equilibristas. Os balões caem da lona, como a chuva que cai do céu, e estouram ao toque dos nossos pés agressivos. Outros funcionam como bolas de futebol, marcando gols nesse enredo artilheiro.

E aí descobrimos, ou redescobrimos, que existiam ainda vários outros “eus” que tocavam ao longe a melodia que ouvíamos. E eles descem de seus lugares e se juntam à fraternal sociedade que existe dentro de nós. E sem os instrumentos musicais, precisamos ainda mais afinar a nossa voz cansada e rouca, calada e louca...

E aí descobrimos, ou redescobrimos, que existiam ainda vários outros “eus” que observavam apenas e que agora se juntam com palmas e marcam o ritmo cada vez mais célere, cada vez mais célebre... E assim renascemos da própria força, própria luz e fé... Somos um menino novo, um menino povo. Somos povo, somos multidão. Somos muitos, somos legião...

E como se fora brincadeira de roda, continuam os “eus” rodando doce e triste na ciranda. As palmas se misturam aos estouros dos nossos anseios, a roda aumenta, aumenta o ritmo, e mesmo aqueles que estão de fora parecem comungar perfeitamente dessa união.

Um grito de dor lembrou-nos que somos muitos. E nessa auteridade tão bem vinda, somos crianças, somos pedaço de gente. E assim, tão fascinados, cantamos e sonhamos os sonhos mais lindos, e erguemos nossos castelos. E erguemos um sonho que é só e que é junto. Que é meu e de todos os meus “eus”... E as mil quimeras se fundem no sorriso da estrela que brilha, e brilha alto, toda azul, lá de cima. Aqui embaixo, continuamos a olhar pra ela, admirando-a, idolatrando-a, fanáticos pelo seu canto.

E quando tudo parecia terminar, a estrela desce. E vemos que era ela o primeiro eu, o que primeiro cantava. E vemos que essa constelação de “eus” sempre esteve em nós, que somos a semente, ato, mente e voz...


Bom... Agora que você já leu, assissta de novo, né... Vale a pena...

02 abril 2009

É O INSTANTE




É o instante. É o instante que nos insta a continuar tentando. Mesmo quando já estão esgotadas as possibilidades, os homens teimosos se esquecem das tristezas que viveram e das alegrias que almejaram acontecer. Passado e futuro não são importantes. O importante é o hoje.

É o instante. É o instante que nos coloca novamente numa luta da qual já somos perdedores, pelo simples fato de continuarmos inutilmente tentando. Pelo gosto do sofrimento que abraçamos como se fosse bom. Pela ausência de auto-piedade que nos leva a dar murros em pontas de facas e ferir nossas mãos idiotas. Idiotas como nós. Porque mãos idiotas que dão murros em pontas de facas são metonimicamente a parte de um todo otário.

Aí, até o carpe diem é vilão. Porque para aproveitarmos o presente, esquecemo-nos das conseqüências de nossas atuais alegrias. E como em não raras vezes o prazer momentâneo do hoje pode ser o vício degradante do amanhã, criamos arapucas pra nós mesmos e entramos nelas. Colocamos o queijo nas ratoeiras e à noite vamos lá, ratos famintos, provarmos do nosso próprio veneno.

Os sonhos são muito bons. O chato é quando acordamos. Cair de um precipício seria, inegavelmente, uma experiência encantadora. Difícil é o parar de cair, que esborracha nosso corpo e levanta a poeira da vida. Do pó vieste e a ele voltarás... Mesmo assim, é preciso acordar.

Os sonhos são muito bons. O chato é quando acordamos. E mais chato ainda seria quando deixamos de acordar na hora certa. Porque existe hora pra acordar. E mesmo quando o despertador grita lá fora, dentro de nós mesmos pedimos mais cinco minutos de sonho, apertando a teclinha da soneca. Mas é preciso acordar na hora certa.

Porque a vida é uma estrada de ferro e se não descermos do trem numa determinada estação, podemos deixar ali, dentro de uma mala, eternamente nos esperando, pedaços daquilo que romanticamente chamamos de felicidade. Fica lá, no guarda-volumes, com o nosso nomezinho na etiqueta. E vamos procurar essas peças do quebra-cabeças mais adiante. E não encontramos. E vamos vivendo com a felicidade faltando pedaços. Por isso é preciso acordar na hora certa. E prestar atenção.

Porque a vida é uma caça ao tesouro com pistas falsas misturadas àquelas que nos levam enfim ao pote. E o pior é que em cima de muitas delas está escrito em letras vermelhas e garrafais: ESTA PISTA É FALSA. Mas essas geralmente nos levam a lugares lindos e encantadores. E vamos lá, como bobos, e perguntamos, “cadê o meu tesouro que tava aqui?” Por isso é preciso prestar atenção.

É preciso sonhar com o futuro, sim, mas com responsabilidade. Tomarmos cuidado com o que pedimos a Deus, pois Ele pode no conceder. É preciso aproveitar o presente, sim, mas com responsabilidade. Tomarmos cuidado pra não transformarmos um bem de hoje num mal de sempre. É preciso esquecer o passado, sim, mas com responsabilidade. Tomarmos cuidado pra não esquecermos que língua na tomada dá choque, que praga de mãe, quase sempre pega, e que voar, voar não é pros humanos...

Os sonhos são muito bons. Difíceis são os pesadelos que teimamos em chamar de sonhos. E que não cansamos de chamar de nossos. E se sonhar é muito bom, melhor ainda seria acordarmos de nossos pesadelos de estimação... E ver que existe vida fora das nossas cavernas. E ver que existem sonhos fora de nossos sonhos. E começarmos tudo de novo. E de novo sermos vítimas do instante.

29 março 2009

A LEVEZA DA VIDA


A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve, mas tem vida breve
Precisa que haja vento sem parar...
(Vinícius de Moraes)



A leveza da vida não está apenas nos momentos calmos, em que tudo parece um comercial de margarina, com pessoas sorridentes que se regozijam numa mesa de café da manhã. A leveza da vida também está, paradoxalmente, nos momentos em que tudo parece perdido.

Muito custei para fazer essa descoberta. Os vendavais do meu de dentro — às vezes furacões, tsunamis, terremotos arrasadores com infinitos graus na Escala Richter — fizeram-me compreender que a vida pode ser leve, mesmo num instante esquecível, em que eu mergulho e me afogo no sal das minhas lágrimas. Existe música neles. Músicas dos mais variados gêneros, para os mais variados gostos. O problema é que umas tocam mais alto que as outras. Lá por trás do heavy metal, gritado, xingado, explodido, está o suave Noturno de Chopin. É só termos ouvidos para ouvir.

Mas nem sempre isso nos interessa. O bom, pra nós, é chorar, gritar e espernear como a criança que não ganhou o chocolate que queria, na hora em que queria. É fazer birrinha... É xingar “desgraça” — nome feio, Papai do Céu chora! O que nos interessa, portanto, é ferir os ouvidos do outro com as nossas feridas. É a agressão de nos verem chorando e se apiedarem de nós, coitadinhos!

Não digo, com isso, que não devemos chorar. Nem que não devemos chorar na frente do outro. Não digo que devemos nos esconder nos nossos quartinhos secretos e somente ali, protegidos pela solidão, vistos apenas pelos olhos do espelho, deixar vir a baixo o nosso edifício. Pelo contrário. A emoção é sempre conveniente, a qualquer hora, em qualquer lugar.

O que não devemos é chorar como se aquele momento fosse pra sempre. Não é. Ele é presente! Só presente. E deve ser um presente caro. Caro, mesmo sendo triste. Caro, mesmo sendo de graça. Porque ele é graça. Se acredito em Deus, ele é graça divina. Se acredito na vida, ele é graça vivida. E se não acredito em nada, ele é graça engraçada, porque no fundo, no fundo, todo momento triste tem piada.

E assim penso. Sei que posso estar enganado. Mas tenho treinado meus ouvidos pra ouvir mais a flauta canora e doce que a guitarra elétrica e distorcida (sem preconceitos, pois também tenho cacos de rockeiro aqui no meu de dentro). Tenho tentado buscar a leveza, a placidez, a calmaria. E mais que isso, tentado fazer o óbvio: colocar cada tempo em seu devido lugar. Atrás de mim, o vivido. Do meu lado, o instante. E à minha frente, o porvir, com todas as suas incertezas, mas com a leveza de uma pluma que se de deixa levar pela mais suave brisa.